Herdeiro de Manhattan

Um herdeiro playboy. Uma florista à beira da falência. Um casamento falso que deu errado—ou que deu certo?

 

Capítulo 1

RONAN

Cidade de Nova York

— Por que você simplesmente não se casa? — perguntou minha irmã Carol.

— Você não pode estar falando sério. Peguei o meu copo de água e virei metade dele, esperando que seu conteúdo gelado estimulasse o meu cérebro a produzir uma nova ideia. No rescaldo da minha última rejeição de empréstimo pelo Bank of America, eu precisava de um novo plano para salvar a minha empresa, Kingsley Technologies, e eu precisava disso rápido. Ou isso, ou seria forçado a demitir a maioria dos meus empregados, o que seria uma traição que eu não estava disposto a contemplar.

Não que eu esperava que Carol fosse resolver os meus problemas durante o almoço no Bar Seis, um bistrô no bairro de West Village que eu frequentava regularmente pelos seus saborosos sanduíches de misto quente. Eu adorava minha irmã mais nova com toda sua franqueza, mas o seu diploma em arte e sua carreira de pintora aspirante não lhe deram a mínima noção de negócios. Mesmo assim, ela era a única da família que estava sempre do meu lado, e por isso eu tinha acabado de lhe contar o meu dilema financeiro. O apoio inabalável de Carol me deu força, que era exatamente do que eu estava precisando neste momento.

Carol afastou seu longo cabelo louro e liso do rosto e me fitou com seus olhos azuis claros.

— A sua parte na herança do vovô é aproximadamente 50 milhões de dólares — disse ela. — Isso não é o suficiente para resolver os seus problemas?

— É mais que suficiente —  respondi. — Mas não há como tocar nesse dinheiro até eu completar 35.

— Pense criativamente — disse ela. — Pelos termos da herança, temos acesso irrestrito ao nosso dinheiro quando a gente completar 35 anos, ou quando o nosso pai morrer, ou quando a gente se casar, aconteça o que acontecer primeiro.

— Faltam dois anos para os meus 35, nosso pai goza de perfeita saúde e casamento está fora de cogitação — eu disse. — Quando se trata de monogamia, eu sou filho do meu pai. Você sabe que eu sou assim.

— Você não é nada parecido com nosso pai — disse ela, mergulhando o garfo na salada de rúcula e parmesão. — Ele é um mentiroso e mulherengo crônico; você não é nenhum dos dois.

— Eu sei quem eu sou — respondi. — Como nosso pai, não sou homem de uma só mulher. Ao contrário dele, não faço promessas que não posso cumprir.

— Você não precisaria —  disse Carol. — Não se o seu casamento for simplesmente um acordo financeiro.

Eu olhei fixamente para ela. — O quê?

Ela revirou os olhos. — Ah não, Ronan. Eu não acredito que você ainda não pensou nisso. Você já saiu com a metade das mulheres de Nova York; deve ter uma delas que estaria disposta a receber um cheque bem gordo para se casar com você.

— Isso jamais daria certo — eu disse.

— Por que não?

— Por muitos motivos.

— Como assim?

— Não adianta nem discutir isso — eu disse.

— Então considere isso uma discussão teórica — disse Carol. — Estou curiosa. Por que você está tão seguro de que a minha ideia não daria certo?

— Duas palavras — resumi. — Qualificações profissionais. Nenhuma mulher no seu perfeito juízo se habilitaria a ser minha falsa esposa. Qualquer mulher louca o bastante para entrar nessa não teria inteligência suficiente para fazer toda a encenação necessária.

— Entendo que a sua falsa esposa não poderia ser qualquer uma — disse Carol. — Ela teria que parecer convincente ao papai e à Verônica. Ela teria que ser confiável e inteligente.

— Convencer nosso pai e nossa madrasta seria somente a primeira cena da farsa que você está propondo — eu disse. — Essa mulher imaginária teria que morar comigo dois anos, posar como minha esposa em público e não se apaixonar por mim.

Carol fez cara feia para mim. — Nossa! Eu não acredito no que acabei de ouvir.

Eu dei de ombros. — As mulheres gostam de mim, sempre gostaram.

Era nada menos que a verdade. A loteria genética tinha me dotado de um rosto bonito e um corpo musculoso de quase um metro e noventa, que eu mantinha sarado com exercícios regulares. E enquanto nenhuma mulher jamais tivesse me tentado a considerar um relacionamento de longo prazo, eu era mestre na arte do curto prazo. Ser um cara legal, fazer a mulher com quem eu estava se sentir linda e ser solícito ao seu prazer tanto quanto ao meu. Eu não assumia compromissos, não fazia promessas, e três noites eram o meu limite autoimposto; embora na prática, eu raramente fosse além da primeira. Manhattan era repleta de lindas mulheres solteiras, o que fazia dela o playground perfeito para um cara como eu.

Carol suspirou. — Eu te amo, Ronan, mas você é um porco chauvinista.

Dei-lhe um sorrisinho. — Talvez eu seja, mas pelo menos eu sei quem sou. Nem todo homem foi feito para o casamento, e aqueles de nós que não são devem ser honestos com relação a isso. Essa é a minha filosofia.

— Filosofia não vai salvar o seu negócio.

— Uma esposa falsa também não. Verônica é uma megera, mas não é estúpida. Ela descobriria a farsa em um minuto, e quando o fizesse, convenceria o papai a bloquear o meu acesso aos bens.

— Ele ainda pode controlar o seu acesso à herança? — perguntou Carol. — Mesmo que você se casasse?

Encostei-me em minha cadeira, olhei para a minha irmã e uma onda de afeição por ela invadiu o meu ser. Enquanto a sua ideia de um casamento falso era loucura, o seu desejo de ajudar significava tudo para mim. A vida não tinha sido fácil para Carol, mas ela tinha o coração maior que o de qualquer pessoa que eu conhecia.

Aos 27 anos, minha irmãzinha tinha se transformado numa linda mulher, muito parecida com a nossa mãe, que havia morrido quando Carol nasceu. Pelo menos eu tive a minha mãe nos primeiros seis anos de vida. Tudo que Carol teve foi o seu nome, Caroline, e um álbum de fotografias.

— O papai é o administrador principal da herança — eu disse. — Se ele entrasse com uma ação alegando que eu falsifiquei o casamento para ter acesso à herança, o dinheiro ficaria bloqueado até que o caso fosse resolvido na Justiça. E se eu tivesse colocado algum dinheiro da herança na Kingsley Tech, minha empresa poderia ser arrastada para o tribunal também.

— Para recuperar o dinheiro? — perguntou Carol.

— Exatamente.

— Acho que faz sentido — disse ela. — E ações na Justiça podem demorar uma eternidade.

— Agora você está enxergando a situação completa — eu disse. — Até não completarmos trinta e cinco, o nosso pai é quem controla a herança. Nenhum de nós pode tocar nela ou tomar emprestado sem o aval dele, que, graças à Verônica, nunca vamos conseguir. Lembra quando eu quis pedir um empréstimo contra a minha parte na herança para começar a Kingsley Tech?

— Como eu poderia me esquecer? — perguntou Carol. — A Verônica detonou seu plano num piscar de olhos.

— Ela traz papai no cabresto em todas as áreas, menos uma.

— Não me faça lembrar — disse Carol com um estremecimento. — Tenho quase certeza que ele está saindo com a nova secretária, que é muito mais nova que eu. Se Verônica não fosse uma megera, eu me sentiria mal por ela.

— Não se sinta — eu disse. — Ela se casou com nosso pai somente pelo seu dinheiro e estilo de vida. A propriedade nos Hamptons. A casa em Aspen. A mansão em Sutton Place.

Carol me censurou com um olhar. — Verdade, mas chega de falar da Verônica. Além do casamento, você tem alguma outra ideia que poderia poupá-lo de demitir seus empregados?

— Ainda não —  respondi. — Mas vou encontrar uma solução. Sempre encontro.